Bragança, no Pará, festeja gastronomia na Festa de São João

ZeroUmInforma/Turismo – Em Bragança, a 220 km de Belém, a farinha de mandioca artesanal não está só na mesa. É um patrimônio imaterial, símbolo da história, “pérola” da cultura popular e também uma das estrelas do Festival Junino da cidade, que movimenta cerca de 50 mil pessoas entre 8 e 11 de junho. Para se ter uma ideia, a produção mensal de farinha na cidade, que envolve 4 mil famílias no município, é de 1,5 tonelada. Por ano, isso significa R$ 75 milhões, cerca de 8% do PIB da cidade.

Ingrediente obrigatório da culinária local, pode parecer exótico mas os paraenses dizem que a chamada farinha d’água vai bem com café, açaí, peixe, moqueca, mingau e até sorvete. Na cidade, a farinha é tão importante que tem até “casa própria”: “Casa de Farinha” é o nome que se dá ao local onde é fabricada. Durante o Festival Junino, turistas poderão conferir uma “grande casa de farinha” onde haverá produção, venda e degustação de receitas. A estimativa é que cerca de quatro mil quilos de farinha de mandioca sejam vendidos no evento, além das dezenas de receitas com farinha e da mandioca em suas variadas formas, comercializadas nas barracas do festejo.

A farinha de mandioca também leva o nome da cidade para o mundo, um verdadeiro “troféu” conquistado após arrematar o título de “melhor farinha do planeta” no maior festival mundial do movimento slow food, realizado na Itália. O caso de amor é tão sério que o município já trabalha para criar uma certificação de origem da farinha – a bragantina leva a fama pela excelência.

PARA

Para recordar

 Um dos responsáveis por isso é Benedito Batista da Silva, o Seu Bené, mais conhecido como Professor da Farinha. O agricultor de 70 anos trabalha com o cultivo da mandioca e produção de farinha desde os 12 e até hoje se emociona ao contar a sua história. E não é para menos. O turista que visita sua casa conhece em detalhes o processo de produção que garantiu à farinha do professor Bené o título de “a melhor do planeta”, mas não só.

Ao lado do forno de cobre à base de pedra, ele fala com amor do seu ofício e do “currículo” que dá ainda mais valor ao seu trabalho: “Na qualidade de um ‘professor analfabeto’, pois só sei escrever meu nome, isso aqui é um dom meu e sou feliz por isso. Tem três coisas que fazem a vida da gente valer a pena – conhecimento, alegria de viver e educação/simplicidade”, emociona-se. Hoje, ele produz cerca de 500 kg de farinha por mês, o que nunca é suficiente para atender à demanda local e de clientes de outros estados e até de fora do País.

Agricultura familiar

Apesar da importância e do laço afetivo e histórico com a iguaria, o fascínio do destino está bem além da farinha. Dentro da Amazônia Atlântica brasileira, a região de Bragança tem campos, mangues, é recortada por rios e igarapés e tem até uma agrofloresta de bacuri, fruta exótica, rara e de delicado cultivo.

A história da área onde hoje há 10 hectares de manejo do bacurizeiro começa na década de 70, mas foi em 2009 que o local se transformou em um projeto inovador de agricultura familiar. Hortência Osaqui, que hoje lidera o trabalho na fazenda ao lado de seu esposo, filho e irmão, conta que “o amor da pela terra é herança” deixada por seu pai.


Créditos: Vanessa Sampaio/ MTur

Hoje, turistas que visitam a propriedade rural podem se hospedar na fazenda, conhecer o processo da mini-indústria artesanal de doces, compotas e licores de bacuri, além de degustar delícias com outras frutas cultivadas ali. A combinação cria, em Augusto Correa, a poucos quilômetros de Bragança, uma referência de empreendimento rural sustentável com foco em turismo. Dali, saem também passeios para observação da revoada de pássaros como o guará, na Ilha do Rato, que fica a quarenta minutos (de barco) da fazenda.

Não é por acaso que o turismo paraense “namora” a gastronomia com tanta paixão. E ela começa antes de chegar à mesa, na fabricação artesanal de panelas de barro, tradição centenária passada de geração para geração. Na Comunidade São Mateus, a agricultora Valcilene Piedade conta que o processo começa na extração de argila e demora cerca de dez dias até a finalização do utensílio. O resultado final é uma obra de arte feita à mão, com alta durabilidade e que suporta altíssimas temperaturas. Ela recebe turistas interessados em conhecer a produção e também em experimentar a típica culinária paraense feita em panela de barro. Qual a diferença? “Além de ser muito mais saudável, o sabor é outro. A gente sabe que a panela não muda a receita, mas muda o resultado dela”, garante.


Créditos: Vanessa Sampaio/ MTur

O Festival

A força da cadeia produtiva do turismo e da gastronomia bragantina estão diretamente envolvidos no Festival Junino de Bragança. A preparação “silenciosa” começa seis meses antes, em dezembro, a partir do momento em que outros setores da economia – costureiras, coreógrafos, historiadores, artistas populares, músicos, artesãos e boa parte do comércio – passam a dedicar algumas horas do dia ou tempo integral à preparação da festa. Agora, a uma semana do evento, enquanto uns afinam as rabecas, instrumento usado para tocar o legítimo xote bragantino, líderes de quadrilhas fazem os últimos ensaios para manter a performance de excelência do arraiá, sempre disputadíssimo.

Para o historiador Dário Benedito Rodrigues, a forte tradição junina no município renova a memória da cidade: “as quadrilhas, bois-bumbás e os cordões de pássaros [danças típicas] revelam um grande enredo de cultura local. Aliás, a praça onde o festival é realizado e onde os dançarinos se apresentam é um importante ponto histórico da cidade, pois ali passava a antiga estrada de ferro de Bragança. O festejo revela muito sobre a riqueza da cultura bragantina”, conclui.


Crédito: Vanessa Sampaio/ MTur

Corumbá

 Bragança (PA) é um dos cinco destinos selecionados para receber ações de promoção e divulgação do Ministério do Turismo. Por meio de edital de chamada pública, a Pasta trabalha na transformação dos festejos juninos em um produto turístico com a cara do Brasil. Um total de 25 propostas de todo o Brasil foram encaminhadas para avaliação da Pasta. Além do município paraense, foram contempladas também Corumbá (MS), Campina Grande (PB), São Luís (MA) e Belo Horizonte (MG).

A ideia é que a celebração cultural passe a atrair visitantes estrangeiros e estimule cada vez mais o turismo doméstico, assim como acontece com o Carnaval. A divulgação das festas, bem como a realização de ações de promoção e apoio à comercialização, faz parte da estratégia conjunta do Ministério do Turismo e da Embratur. Segundo o ministro do Turismo, Marx Beltrão, “queremos que o São João tenha seu valor turístico reconhecido tanto no Brasil como no mundo. Trata-se de uma manifestação cultural extremamente rica que tem enorme potencial para se transformar em um produto turístico assim como o Carnaval”.

Fonte: Agência de Notícias do Turismo

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